A primeira mulher cacique reconhecida no Brasil é da etnia Jenipapo-Kanindé, localizada na aldeia Lagoa Encantada, distrito de Iguape, município de Aquiraz, no Ceará. Lá, a voz ativa é de Maria de Lourdes da Conceição Alves, a Cacique Pequena.
O adjetivo de “pequena”, ela só carrega no nome. Sua trajetória, força e personalidade são gigantes. Foi eleita em 1995 para o maior cargo de liderança política e social de sua aldeia, numa
época em que não era comum uma mulher ocupar tal posição. Enfrentou não apenas as lutas para conquistar melhorias para o seu povo, como também o preconceito dos próprios indígenas,
mas escolheu seguir em frente em sua missão.
Sob a sua liderança, os Jenipapos-Kanindés conquistaram a demarcação das suas terras, uma casa de farinha, energia elétrica, água encanada, posto de saúde, um galpão para a venda de artesanatos indígenas e uma escola indígena, a Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Jenipapo-Kanindé, inaugurada no dia 18 de fevereiro de 2009.
Foi exatamente nessa escola, numa tardezinha do ano de 2010, que o Sesc entrou na vida da Cacique Pequena, quando ela recebeu o convite para fazer parte de um projeto que estava nascendo: O Encontro Sesc Povos do Mar. “O Paulo (consultor de Programação Social do Sesc Ceará) chegou e disse assim: a senhora é Cacique Pequena? Eu vim fazer um convite para a senhora para fazer parte do Povos do Mar, para senhora apresentar lá no Sesc a sua cultura”, lembra.
Ela aceitou, e lá se vão 15 anos de uma história entre o Sesc e os Jenipapos-Kanindés, tendo a
Cacique Pequena como uma das representantes mais emblemáticas do Povos do Mar e Herança Nativa, projetos que mostram a cultura de diversos povos do estado, num verdadeiro mosaico de costumes, identidade e tradição.
Ao se apresentar, Cacique Pequena afirma: é mestre da cultura, guardiã da memória, doutora da
mata e professora da aldeia. Seu protagonismo ganhou o mundo e, em 2021, foi escolhida pelo Google para ser homenageada na campanha First of Many — Women’s History Month, que selecionou mulheres inovadoras que lutaram para conquistar seu espaço no cenário mundial. Cacique Pequena foi reconhecida juntamente com Marie-Cure, primeira mulher a ganhar prêmio Nobel; Junko Tabei, primeira mulher a escalar o Monte Everest; Madam C.J. Walker (Sarah Breedlove); Oprah Winfrey; Beyoncé e Tracee Ellis Royce.
No meio de tanta relevância na trajetória de Cacique Pequena, há um espaço de destaque para a
sua história com o Sesc e como a instituição ajudou a dar espaço para que ela pudesse manter vivas as tradições e cultura do seu povo. Numa verdadeira troca entre várias etnias reunidas pelo Povos do Mar e Herança Nativa, Cacique Pequena vai espalhando seus saberes e suas experiências, fortalecendo seu protagonismo e a imagem dos povos indígenas do Brasil. “No Sesc eu me sinto como se eu tivesse em casa”, resume.