Empreender é uma decisão que pode levar a várias possibilidades, mas também é um caminho
cheio de desafios. A carga tributária, a burocracia, a dificuldade de acesso ao crédito, a instabilidade do mercado e a concorrência acirrada são alguns dos obstáculos enfrentados por quem é empreendedor no Brasil. Porém, uma boa gestão financeira pode aliviar o impacto dessas dificuldades, ajudando o negócio a se manter e crescer.
Atualmente, o Brasil possui cerca de 21,7 milhões de pequenas empresas, representando 97% do total de negócios do País. Elas são responsáveis por 26,5% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo informações levantadas pelo Sebrae com apoio da Receita Federal. Isso significa que os microempreendedores individuais (MEI), microempresas (ME) e empresas de pequeno porte
(EPP) representam uma parcela significativa da economia brasileira, contribuindo para a geração de empregos, promovendo o empreendedorismo e impulsionando o crescimento econômico.
Por outro lado, um levantamento feito pela Unio Company, gestora de estruturação de negócios, mostra que cerca de 50% das companhias no País não chegam a cinco anos de existência. Uma boa gestão financeira pode mudar essa realidade, permitindo ao empreendedor ter controle sobre as receitas e despesas da empresa, planejar investimentos, reduzir desperdícios e tomar decisões mais estratégicas garantindo, assim, sustentabilidade para seus empreendimentos.
Digitalização e inovação
O instrutor de Gestão e Comércio do Senac Ceará, Wesley Rodrigues, aponta que os empresários enfrentam as mesmas dificuldades ao longo dos anos, como é o caso da carga
tributária, por exemplo, mas observa o surgimento de um novo desafio que pode ser crucial para o fracasso ou sucesso de um negócio: o processo de digitalização do consumidor. Segundo
ele, isso vem exigindo inovação e presença online constante, independentemente do porte da empresa, com perfis nas redes sociais autênticos que se comuniquem com seu público-alvo.
“Muitos empresários acreditam que ‘em time que está ganhando não se mexe’, e é exatamente o contrário. Para poder continuar ganhando é necessário inovar diante do cenário de concorrência constante, especialmente a virtual. Isso é ponto de sobrevivência para qualquer negócio”, adverte.
Ele ressalta o fato de que, antes, as empresas concorriam com outras que estavam no mesmo bairro ou no máximo na mesma cidade. Com a chegada da tecnologia e o acesso cada vez mais
democrático à internet, empresas que vendem o mesmo produto concorrem com outras no mundo inteiro, e o que pode fazer a diferença na hora de o cliente escolher o produto ou serviço
está no relacionamento, na gestão, na assertividade da entrega – fatores que influenciam na fidelização dos compradores.
Conhecer a sua empresa
Outro ponto importante, pontua o instrutor do Senac, é o empresário compreender que, para ter sucesso, não basta ser um bom negociador, vender muito ou ter uma grande variedade de itens, mas é preciso também ter uma atividade analítica para trazer saúde financeira para o empreendimento.
“Com uma gestão organizada é possível evitar endividamentos desnecessários, garantir capital reserva para eventuais emergências ou grandes oportunidades, conseguir tomar decisões com base em diversos resultados e atrair novos investimentos. Muitas vezes ter um grande estoque de produtos não significa lucro, mas gasto de recursos em mercadorias que podem não ter tanta saída quanto o esperado”, argumenta.
Everton Silva, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas de Fortaleza, empresário há 30 anos, concorda que, hoje, para manter uma empresa funcionando bem não basta apenas saber vender, é preciso muito mais, como escolher bons fornecedores, negociar um bom valor de compra com ele, para ter, então, um preço de venda atrativo para o consumidor.
Para ele, o que mais pesa atualmente para os empresários são os juros e a carga tributária cada vez maior. “A cada ano, novos impostos são criados, junto com a promessa de uma reforma tributária para resolver o problema, que não se resolve nunca. Essa é uma questão chave, prejudicial para todo empresário. Para se ter uma ideia, há 20 anos tínhamos uma taxa de imposto de 18% no Brasil, e hoje já chegamos a uma carga tributária de 37%”, lamenta. “Entendo que o caminho seja o Governo estabilizar os impostos e garantir um poder de compra maior para os consumidores”.
Benoni Vieira, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Cascavel e empresário há
40 anos, acredita que uma boa gestão financeira é parte fundamental de qualquer negócio, mas
não apenas isso — ter conhecimento é outro ponto que faz a diferença.
“Em qualquer tipo de atividade empresarial, a gestão financeira é importantíssima, mas é preciso também buscar instrução, conhecimento na área para poder gerir qualquer negócio, e muita gente não procura essa parte da educação”, defende.
O empresário Paulo Bezerra, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Maranguape, sabe bem todos os percalços que um empresário passa para abrir e manter uma empresa com as portas abertas. Com uma bagagem de 40 anos de experiência nesse ramo, iniciou pequeno, mas aos poucos foi se tornando uma referência e tradição no comércio da cidade. Para ele, uma dica importante é jamais misturar o financeiro da empresa com as despesas pessoais do dono.
“Manter uma empresa funcionando é uma tarefa difícil e, sem gestão financeira, isso é impossível. São muitas as nossas dificuldades, como a burocracia e a alta carga tributária do País, então, se não houver um controle ou planejamento das receitas e despesas, a empresa fecha as portas”, avisa.