Fecomércio Ceará Fecomércio Ceará

B-R-O-Brós: meses de consumo em alta no Ceará

Por Ascom, 26/09/25 - 15:59

Destaque

Quando setembro chega, começa a contagem regressiva para o “verão” do consumo no Ceará. Os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro n— o tradicional B-R-O-Bró — conhecidos por serem nos mais quentes do ano em temperatura no Ceará e também na Região Nordeste, também concentram, juntos, cerca de 36% da receita anual do varejo cearense, segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE. É nesse período de calor que o
comércio e os serviços ganham energia e fôlego com na ajuda das datas comemorativas, das promoções mais agressivas do ano e de um consumidor mais disposto a abrir a carteira.

Neste quadrimestre, o comércio encontra uma combinação rara: consumidores mais dispostos a gastar, sazonalidade favorável e um conjunto de datas comemorativas que impulsionam diferentes segmentos.

Seja no Dia das Crianças, na Black Friday ou no Natal, o varejo se movimenta para atender a uma demanda que cresce mês a mês, atingindo o pico em dezembro. E, para 2025, a expectativa é de um B-R-O-Bró com ritmo acelerado — embora ainda acompanhado de cautela. Dados do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Ceará (IPDC), vinculado à Fecomércio Ceará, mostram que, historicamente, esse quadrimestre concentra as principais oportunidades
de venda do ano, representando um alívio após a travessia mais lenta do primeiro semestre.

A concentração das datas comemorativas no segundo semestre são um diferencial sem precedentes. Em 2024, por exemplo, num estirão de quase dois meses, Black Friday e Natal reuniram cerca de R$ 891 milhões de perspectiva de consumo nas datas somente em Fortaleza, de acordo com as pesquisas de Potencial de Consumo realizadas pelo IPDC. Dados do IBGE revelam que o Natal, sozinho, pode representar até 20% do faturamento anual de setores como vestuário e decoração, evidenciando a importância estratégica desse período para o comércio cearense.

Mas, embora o comércio como um todo se beneficie dessa onda de consumo, alguns setores se
destacam como verdadeiros motores do faturamento. No Ceará, seis segmentos são historicamente responsáveis por puxar a alta nas vendas: tecidos, vestuário e calçados; outros artigos de uso pessoal e doméstico; móveis e artigos de decoração; perfumaria e cosméticos; eletrodomésticos; e hipermercados e supermercados.

 

 

Tudo indica que, neste 2025, o cenário estará favorável para a manutenção desse boom  de quatro meses. A diretora Institucional da Fecomércio Ceará, Cláudia Brilhante, relata que a inflação tem mostrado sinais de moderação, o que ajuda a preservar o poder de compra das famílias. O crédito, embora ainda restrito devido aos juros elevados, tende a ser mais acessado nas compras parceladas, segundo ela, especialmente durante eventos como a Black Friday e o
Natal. Nesse contexto, o comportamento do consumidor deve refletir um misto de intenção de consumo e racionalidade nas escolhas, privilegiando promoções, custo-benefício e canais de venda digitais.

“Este é o momento de planejar bem, investir na experiência do cliente e aproveitar ao máximo a sinergia entre o físico e o digital. Quem conseguir alinhar preço competitivo, conveniência e atendimento de qualidade estará à frente”, disse Cláudia Brilhante.

O cenário econômico: otimismo moderado

Dados do IPDC mostram que o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) de Fortaleza subiu 2,6% em agosto deste ano, alcançando 116,6 pontos, sinal de que o otimismo está no ar. Porém, a intenção de compra ainda é seletiva, com as famílias priorizando promoções e o parcelamento no cartão. A intenção de compra caiu de 36,2% para 35% em agosto, ficando abaixo dos 42,4% registrados no mesmo mês de 2024.

Outro importante termômetro é a Pesquisa de Endividamento do IPDC, que revela que 73% dos consumidores de Fortaleza estão endividados em agosto, número maior do que o de julho (65,6%), mas abaixo do observado no mesmo mês de 2024 (75,3%). A boa notícia é que a proporção de famílias com contas em atraso caiu para 20,6%, e a inadimplência potencial recuou para 10,2%.

Ainda assim, o comprometimento médio da renda com dívidas é elevado (44,2%) e grande parte dessas obrigações vem de gastos correntes, como alimentação (63,7%) e saúde (28,6%).
Isso significa que, embora o consumidor esteja mais confiante, seu espaço para ampliar gastos não obrigatórios ainda é limitado.

“Por isso, a cada mês, durante a divulgação das nossas pesquisas, reforçamos o serviço de educação financeira para os consumidores, orientando a organização de um orçamento mensal, a não comprar por impulso, nem sem programar e pesquisar antes. O comércio não quer o consumidor endividado, quer que ele esteja com crédito e apto a movimentar a economia. Por outro lado, os empresários e as empresas estão atentos a esse comportamento e dispostos
a negociar com seus clientes”, analisa a diretora da Fecomércio.

Um dos setores que puxa essa alta é o comércio de moda em Fortaleza. O CEO do Grupo C.Rolim, Guilherme Rolim, diz que o setor vem apresentando um clima positivo neste fim de ano. Entre setembro e dezembro, ele sinaliza que há uma movimentação crescente, impulsionada tanto pelo aquecimento natural das datas festivas quanto pelo fortalecimento da cidade como polo atacadista e varejista do setor. Segundo ele, a Black Friday, por exemplo, é uma data importante não apenas pelas vendas imediatas, mas também porque já funciona como um aquecimento para o Natal.

Além disso, o gestor destaca o momento estratégico da C.Rolim: “Vivemos um momento especial, marcado pela expansão e rebranding da marca. O projeto inclui um novo layout de lojas e a revitalização da identidade visual, reposicionando a C. Rolim no varejo de moda no Ceará. Nossa expectativa é de um crescimento de 15% nas vendas, sobretudo nas semanas que antecedem o Natal e o Réveillon, quando o fluxo de clientes é ainda mais intenso”.

 

Mais vendas, mais empregos

O impacto não se limita às prateleiras. Mais do que aumento nas vendas, é também uma janela de oportunidades no mercado de trabalho, quando o setor abre as portas para milhares de
trabalhadores temporários — muitos deles jovens em busca do primeiro emprego ou profissionais em transição de carreira. A expectativa, segundo estimativas do IPDC, é de que o comércio cearense absorva, em 2025, um saldo líquido entre nove e dez mil postos de trabalho. O Grupo C.Rolim, por exemplo, vai, a partir de outubro, iniciar contratações extras para reforçar as operações no fim de ano, com a previsão de abertura de 150 vagas temporárias.
Já a Casa Pio, uma liderança no setor de calçados, geralmente inicia as contratações no final do mês de setembro e a previsão esse ano é de 600 vagas, de acordo com Ana Lucia Rocha, da área
de Marketing da empresa.

O histórico dos números mostra que essa é uma tradição consolidada. Em 2023, o comércio no Ceará gerou, entre setembro, e dezembro, um saldo de 8.005 empregos formais (contratações
menos demissões). Em 2024, o saldo foi ainda maior: 8.510 postos de trabalho no mesmo período.

Estratégias das empresas

Para enfrentar o alto custo do crédito e a concorrência acirrada, lojistas e prestadores de serviços estão antecipando campanhas, reforçando estoques e apostando em ações omnichannel — que integram lojas físicas, e-commerce e redes sociais.

O apelo visual das vitrines, campanhas temáticas, o lançamento de produtos sazonais e as edições especiais para presente se tornam ferramentas estratégicas.

A Casa Pio destaca o Dia das Crianças como a principal data em seu calendário promocional. A
campanha “Pá Pé Pio” já soma 41 anos de existência, e essa longevidade e o reconhecimento nos três estados onde está presente – Ceará, Paraíba e Pernambuco – demonstram a eficácia e o impacto cultural da campanha, com engajamento e nostalgia. Ana Lúcia Rocha destaca que a preparação para datas comemorativas como o Dia das Crianças, Black Friday e Natal é crucial para o sucesso do varejo. “Esse é o caminho que buscamos com uma campanha multicanal, preparação de loja intensa com ofertas específicas e treinamento de equipe”, disse.

Uma das maiores cadeias da área de materiais de construções do Ceará, a Apiguana, já está preparada para esse período. Pedro Braga, CEO da Apiguana, destaca que o fim do ano tem sido especialmente positivo para o segmento e, este ano, ainda mais para a rede. Isso porque a Apiguana completa, em 2025, 60 anos de atuação. Segundo ele, a expectativa é de crescimento robusto no período. “Esperamos um crescimento de dois dígitos para este final de ano, superando os resultados de 2024, impulsionado tanto pela confiança do consumidor cearense quanto pelas estratégias comerciais e promocionais que estamos colocando em prática”, completa.

Entre as estratégias para as boas vendas, o CEO da Apiguana adianta campanhas diferenciadas, novas experiências e, principalmente, uma transformação da loja matriz, que em breve estará de cara nova, com o dobro da área de vendas.

O empresário Guilherme Rolim, da C. Rolim, ressalta que o grupo tem investido em planejamento antecipado de compras, campanhas bem segmentadas e um atendimento mais próximo e qualificado. “Além disso, a consolidação do novo layout de lojas e da identidade visual fortalece a experiência de compra, tornando-a mais atrativa e diferenciada. Tudo isso contribui para que possamos aproveitar ao máximo o potencial de vendas do Dia das Crianças, Black Friday e Natal”, disse.

 

O “Natal prolongado”

O B-R-O-Bró funciona como um Natal antecipado para o comércio cearense. Cláudia Brilhante aponta que a combinação de preparo, sensibilidade ao comportamento do consumidor e uso inteligente de canais de venda pode transformar esse quadrimestre no melhor momento do ano. “Os meses do B-R-O-Bró são mais do que um período de vendas. É uma oportunidade
para criar vínculos com o cliente, fortalecer marcas e impulsionar a economia local”, finaliza.

Próximo