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Café Comércio: onde o tempo e o sabor servem futuro

Por Ascom, 26/09/25 - 15:45

Destaque

Atravessar as portas do Café Comércio, inaugurado em junho de 2025 pelo Sistema Fecomércio Ceará, é mais do que entrar em uma cafeteria: é ser convidado para uma viagem sensorial pela história da cidade, servida em xícaras e pratos que contam histórias.

Instalado no piso térreo do majestoso Edifício Antônio Gomes Guimarães, sede da Associação
Comercial do Ceará, o Café Comércio nasce com uma dupla vocação. É um espaço para saborear o melhor da gastronomia cearense e, ao mesmo tempo, uma sala de aula viva. Um
restaurante-escola do Senac, onde alunos de cursos como gastronomia, confeitaria, panificação e garçom aprendem na prática a arte de encantar o cliente.

“O Café Comércio nasce com a proposta de ser um espaço que une tradição, cultura e formação profissional. Buscamos resgatar elementos históricos e simbólicos do Centro de Fortaleza,
incorporando referências do passado à experiência gastronômica oferecida no local. A ambientação, a arquitetura preservada e o menu cuidadosamente elaborado refletem esse compromisso com a valorização da identidade cearense. Ao mesmo tempo, o novo espaço cumpre uma função estratégica no nosso modelo de educação profissional, funcionando como empresa-escola e ambiente de prática para alunos dos cursos de gastronomia e hospitalidade do Senac. É uma iniciativa que conecta patrimônio, qualificação e inovação a serviço do desenvolvimento do Centro da cidade”, afirma Débora Sombra, diretora Regional do Senac Ceará.

“O salão é uma sala de aula, a decoração é uma sala de aula”, define Vanessa Santos, consultora educacional do eixo de gastronomia do Senac Ceará. A proposta, segundo ela, não foi impor um negócio ao prédio, mas deixar que o próprio edifício contasse o que deveria ser. “Nós não iríamos adaptar o prédio a nós; nós é que iríamos nos adaptar a ele”.

Essa reverência ao passado é o ingrediente principal. O estudo histórico sobre os tempos áureos do Palace Hotel, que funcionou ali a partir de 1927, inspirou um cardápio que Vanessa chama
de “gastronomia cearense elegante”. “Você não vai encontrar nenhum prato contemporâneo, todo criativo. Vai encontrar as comidas que o cearense comia naquela época, talvez servidas de
um corte diferente, numa louça diferente”, explica. É o caso do clássico buraco quente, da tapioca, do pão com ovo, pratos que evocam memória afetiva e resgatam a identidade local.

 

As paredes que falam

A escolha do local não poderia ser mais simbólica. Encrustado no coração do Centro, em frente ao Passeio Público, o prédio é um protagonista da paisagem urbana de Fortaleza há mais de um
século. Para o urbanista e diretor de política urbana do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Ceará (IAB-CE), Robledo Valente, a edificação “viu a cidade se transformar, viu nascer o Passeio Público, ouviu as festas do entrudo (antigo carnaval) e viu também o declínio do Centro”.

A arquiteta da Fecomércio Ceará, Christianne Caldas, que esteve à frente do projeto de restauro, conta que a própria arquitetura do antigo hotel “já ditou as regras”. O maior desafio
foi casar a preservação histórica com as exigências modernas de acessibilidade e segurança. “Adaptar as instalações sem ferir a arquitetura original, as alvenarias, as esquadrias, foi um grande quebra-cabeça”, revela.

Durante o processo, uma surpresa se revelou como um presente: sob camadas de tinta, foram descobertas pinturas à mão da década de 1920. Delicadas e repletas de detalhes, elas foram meticulosamente restauradas. “Essa pintura virou o tema do café, o símbolo gráfico”, conta Christianne, com orgulho. Hoje, olhar para o teto e as sancas do Café Comércio é apreciar a arte
que o tempo guardou.

 

Um legado de pai para filho

Para João Guimarães, presidente da Associação Comercial do Ceará, ver o salão cheio de vida
tem um sabor especial. Foi seu pai, Antônio Gomes Guimarães, quem, no início da década
de 1970, liderou a compra do Palace Hotel, que estava fechado e corria o risco de ser demolido,
para transformá-lo na sede da entidade.

“Nós só temos aquele prédio por causa dele”, afirma, emocionado. A parceria com o Sistema Fecomércio, para ele, garantiu não só a revitalização do espaço, mas a continuidade da obra de seu pai. “Acredito que, de onde ele está, com certeza está muito satisfeito, porque a obra dele continua. O prédio pode se manter por muitos e muitos anos”.

Essa sensação de pertencimento e história é o que cativa quem visita o local. Lucas Madi, produtor cultural, esteve no café pela primeira vez e sentiu como se tivesse “viajado no tempo”.
“A decoração me remete a uma época remota”, descreve. Para ele, a presença de um espaço como esse é fundamental para a revitalização do Centro. “Faz com que a gente frequente mais
o bairro e se sinta mais à vontade”. Em uma palavra, ele define a experiência: “História”.

Com a abertura do Café Comércio, Fortaleza não ganha apenas um novo ponto gastronômico. Ganha um corredor cultural mais forte, que dialoga com a Estação das Artes, a Pinacoteca do Ceará e o Museu da Indústria. Ganha um centro mais convidativo e, acima de tudo, ganha de volta um pedaço vivo de sua própria memória. Um brinde ao passado, com os olhos e os sabores voltados para o futuro.