No povoado de Moita Redonda, em Cascavel, foi inaugurado o mais novo Museu Orgânico pelo Sistema Fecomércio Ceará, por meio do Sesc, neste sábado (06/12). O lugar é o principal polo de produção de cerâmica e também abriga o Grupo Uirapurú – Orquestra de Barro, que recebe essa homenagem em forma de museu orgânico, sendo um reconhecimento desse território cultural onde o ciclo do barro gerou saberes e fazeres a partir da sabedoria ancestral, unindo a tradição da cerâmica à arte da música.

O Museu da Orquestra de Barro Uirapurú conta com os instrumentos de corda, sopro e percussão, todos feitos de barro, destacando também a comunidade de ceramista do povoado, que utilizou de uma matéria-prima abundante da região e transformou em música, com sons únicos. Além disso, o Museu passa a ser uma vitrine para que os visitantes conheçam a história da Orquestra de Barro e possam também adquirir peças dos ceramistas locais, movimentando, assim, a economia da cultura.

Segundo o presidente do Sistema Fecomércio, Luiz Gastão, por meio de projetos como esse, o Sistema reafirma o apoio à preservação e valorização da cultura do Ceará. “O Grupo Uirapurú desenvolve ações há 20 anos na comunidade. Ao longo desse tempo, inúmeras pessoas tiveram a oportunidade de aprender com esse trabalho e de construir novos caminhos para suas vidas. Aqui, a música nasce de instrumentos moldados a partir do barro e, junto com a cultura, forma cidadãos que ajudam a transformar o território em um lugar melhor para se viver”, afirmou o presidente, destacando o impacto positivo da cadeia produtiva da economia criativa no Estado.

“O trabalho que a gente desenvolve aqui, desde 2006, com a arte e com as crianças, não é só no sentido de formá-las como artistas, mas o de fazer que percebam o quanto é rica essa tradição e a cultura da família que fazem parte, assim como elas também podem se transformar sem perder as suas raízes. Isso é algo que a gente traz para a mente delas, para o convívio e a comunidade: o quanto é importante manter viva uma tradição, porque essa tem uma força que perdura no tempo, que é a força da ancestralidade, algo muito pulsante aqui”, explica o criador do Grupo Uirapurú – Orquestra de Barro, Tércio Araripe.

Para ele, “estar trabalhando com a música e a cerâmica revela muitas potencialidades dentro dessa experiência, que está evoluindo, ganhando novas formas e reconhecimento, como esse de se tornar um Museu Orgânico do Sesc e ganhar o apoio do Sistema Fecomércio. É uma gratidão enorme”.

Sobre Tércio Araripe

Desde criança a música foi para Tércio Araripe algo presente, mas um estilo se destacava das outras: a indiana, que lhe trazia um sentimento de familiaridade que ele não sentia com as músicas de outros países. Foi a partir daí que a curiosidade sobre quais instrumentos eram aqueles que faziam sons tão potentes surgiu, e numa visita ao Museu da Cabaça, em Juazeiro do Norte, teve acesso a um livro que trazia instrumentos musicais primitivos, de diversas culturas milenares, originários de diferentes partes do mundo, se identificando automaticamente.

Junto com a comunidade da Moita Redonda, Tércio Araripe criou diversos instrumentos de corda, sopro e percussão, todos feitos de barro, e convidou os jovens para formar uma orquestra. Um dos objetivos da proposta é envolver as novas gerações na arte da cerâmica, tradição da qual vinham cada vez mais se distanciando, mostrando que com as antigas ferramentas, é possível fazer algo, sem com isso se afastar ou se desligar das nossas raízes.

Segundo Tércio, trabalhar musicalmente com o barro é algo que a humanidade faz desde muito antes da era cristã. Nesses experimentos ele busca construir, além de instrumentos sonoros, objetos estéticos que funcionem como instrumentos musicais.

Sobre os Museus Orgânicos

Baseados no vínculo com a história e dos lugares onde vivem e atuam os mestres de cultura popular. O projeto nasceu com o amadurecimento da parceira com a Fundação Casa Grande, localizada na cidade de Nova Olinda, para o fortalecimento de uma rede formada por lugares de memória, sendo o Sesc um ativador desses espaços. Para que se tornem Museus Orgânicos, os projetos passam por pesquisas e estudos consistentes a respeito de cada tradição cultural, suas referências coletivas e o impacto na comunidade.

Foto/Créditos: Ribamar Neto