De acordo com a definição do dicionário, sustentabilidade é a característica ou condição do que é sustentável; significa sustentar, defender, apoiar, conservar e cuidar. Observando o conceito da palavra, é a capacidade de algo se sustentar, se conservar e permanecer ao longo das gerações. Em junho de 2023, o Sistema Fecomércio Ceará deu início a um projeto de olho na sustentabilidade: o Projeto de Aquisição de Gêneros Através do Credenciamento de Cooperativas da Agricultura Familiar.
O nome é extenso, mas é um projeto fácil de entender: o Sistema Fecomércio compra os produtos produzidos pela agricultura familiar e abastece suas unidades e restaurantes. A compra é feita de produtores familiares, por meio das cooperativas que atuam na agricultura, pecuária, piscicultura e carcinicultura, abrangendo 22 cooperativas localizadas em diferentes regiões do Estado e impactando cerca de 2.000 famílias produtoras.
Tripé sustentável
O conceito de sustentabilidade leva em consideração três fatores:: o social, o ambiental e o econômico. O projeto de Aquisição de Gêneros Através do Credenciamento de Cooperativas da Agricultura Familiar se baseia nesse tripé, sendo ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente justo; se consolidando, então, como uma iniciativa sustentável.
O programa fortalece a conexão dos produtores com suas origens sociais e afetivas, contribui para uma alimentação de melhor qualidade e com menor impacto ambiental, e auxilia os produtores na ampliação de novos mercados para seus produtos.
“Realizar ações baseadas no tripé da sustentabilidade lança luz sobre uma metodologia utilizada em todo o mundo e está em sintonia com boas práticas do mercado. O conceito que permeia o tripé se assenta sob o guarda-chuva dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e demonstra o compromisso do projeto, desde sua concepção, com o pacto global de sustentabilidade”, explica a diretora Administrativa do Sesc e Senac, Márlea Nobre.
Expansão
De 2023 até o momento, foram investidos mais de R$ 27 milhões em compras (R$27.884.678,95), abastecendo as unidades do Sesc e Senac de todo o Ceará, o Sesc Iparana Ecoresort, os restaurantes e clubes recreativos do Sesc, os cursos de gastronomia e as empresas-escolas do Senac, como o restaurante Mayú e o Café Senac.
Marlea Nobre esclarece que o projeto se pauta na maior amplitude disponível de gêneros produzidos pelo pequeno produtor. Para isso, o Sistema Fecomércio, por meio do Sesc e Senac, aprofundou o instrumento de credenciamento das cooperativas e, em paralelo, auxilia a pequena produção a alcançar os padrões necessários à produção de alimentos junto ao público final, os clientes do Sesc e Senac em seus restaurantes e lanchonetes.
Direto do campo
Diego Mota, agricultor do assentamento Santa Bárbara e cooperado da Cooperativa de Produção Agropecuária e Serviços Santa Bárbara (COPASB), responde de pronto quais os benefícios de um produto colhido direto do campo da agricultura familiar: qualidade e sabor. “Usamos o mínimo de agrotóxico, por isso a nossa produção tem muito mais sabor e mais qualidade, pode comparar. Aqui realmente sai direto do campo e vai pra mesa das pessoas. É muito mais saudável”, defende.
Segundo Diego, muita coisa melhorou depois da chegada do projeto de Aquisição de Gêneros Através do Credenciamento de Cooperativas da Agricultura Familiar. Agora, segundo ele, toda a produção consegue ser escoada, o que aumentou a renda para todos os cooperados. Dessa forma, eles puderam investir na lavoura, com melhorias na encanação para irrigação, e a compra de um filtro de gotejamento e de um motocultivador que serve para limpar e arar o campo, um trabalho que demandaria 20 homens.
“Através das cooperativas, conseguimos fortalecer a agricultura, a indústria e o comércio. Também buscamos qualificação e formação em cooperativismo, pois, assim, não só compramos, mas compartilhamos tecnologias, sementes e maquinários. Queremos fortalecer ainda mais essas ações”
Luiz Gastão, Presidente do Sistema Fecomécio Ceará
Valdir Pereira, também agricultor do assentamento Santa Bárbara, confirma a fala do colega de profissão. “Agora a gente trabalha com mais gosto porque sabe que não vai ter prejuízo”, resume. Segundo Valdir, os pedidos do projeto do Sistema Fecomércio acontecem durante todo o ano, sem intervalo. No seu caso, as entregas do assentamento são feitas semanalmente, cerca de 1.600 quilos entre frutas e verduras.
Nonato Barbosa, presidente da COPASB e representante da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNICAFES) informa que a Cooperativa tem 151 cooperados e quatro assentamentos que plantam batata, melancia, maxixe, abóbora, milho, feijão, cheiro verde, mamão, acerola e banana.
Com o projeto, destaca, aumentou a renda para os agricultores e a segurança do escoamento da produção. “Com esse dinheiro, nós investimos também na cooperativa, compramos uma câmara fria, uma unidade de beneficiamento de polpa, um caminhão, uma placa de energia solar, além de equipamentos que melhoraram a logística, como caixas e balanças”, contabiliza.
Outra novidade foi o biodigestor, um sistema que decompõe matéria orgânica, como restos de alimentos e esterco animal, em biogás e biofertilizante. O equipamento, garantido pelo Sesc, foi instalado no assentamento Santa Bárbara e tem a capacidade de fertilizar todo o solo, contribuindo, assim, na economia da compra de fertilizantes. Segundo Nonato, a ideia é adquirir outros biodigestores para os demais assentamentos da Cooperativa.
Capacitação
O programa também se destaca como uma ferramenta de qualificação. Por meio do Senac, os produtores participam de cursos nas áreas de Gestão e Negócios, com o objetivo de aprender boas práticas de mercado que podem agregar ainda mais ao pequeno produtor em suas tarefas diárias.
De acordo com o gerente de Educação do Senac, João Luiz Fernandes, foram três turmas finalizadas, até o momento. Os cursos ofertados foram de Gestão de Cooperativas de Produtores Rurais, Logística para Cooperativas de Produtores Rurais e Marketing em Cooperativas de Produtores Rurais.
Cada cooperativa indicou dois representantes para participarem dos cursos, que tiveram duração de 16 horas. “Pensamos em cursos para capacitar os membros das cooperativas, com o intuito de desenvolver e aperfeiçoar as atividades realizadas pelos produtores, para que eles possam ampliar a atuação da cooperativa em mais mercados consumidores”, esclarece João Luiz.
Notoriedade
Segundo o coordenador de Desenvolvimento Comunitário do Sistema Fecomércio, Sesc e Senac, Eudes Xavier, o projeto está crescendo e ganhando notoriedade por um conjunto de fatores, dentre eles, por ser uma iniciativa inovadora e por estar em constante diálogo com os produtores rurais, por meio de suas respectivas cooperativas. “Esse programa é um marco histórico do Sistema S do comércio por potencializar o trabalho e a renda com bases sustentáveis. Além disso, a integração do Sistema Fecomércio com as áreas técnicas administrativa e jurídica, em diálogo aberto com as cooperativas, vem construindo uma iniciativa com base no consenso e em interesses comuns”, resume”, resume.
Reconhecimento
A iniciativa rendeu um reconhecimento do Sesc Brasil. No dia 27 de janeiro de 2025, o presidente do Sistema Fecomércio Ceará, Luiz Gastão, recebeu o Selo de Projeto Sustentável, concedido pela Assessoria de Sustentabilidade do Departamento Nacional do Sesc. A honraria destacou o Ceará como o primeiro estado do Nordeste a receber o título e o segundo do país, consolidando o compromisso do Sesc com o desenvolvimento socioambiental e a segurança alimentar.
A conquista desse reconhecimento foi possível após longo processo de autoavaliação mediante aplicação da “Matriz de Sustentabilidade” em seus 15 critérios. No total, o Sesc Ceará conquistou 21 dos 30 pontos possíveis na Matriz de Sustentabilidade, alcançando a faixa que garantiu o Selo de Projeto Sustentável.
Durante o evento de entrega do Selo, Luiz Gastão destacou a relevância do cooperativismo como estratégia para impulsionar a economia local e promover ações integradas de desenvolvimento. “Através das cooperativas, conseguimos fortalecer a agricultura, a indústria e o comércio. Também buscamos qualificação e formação em cooperativismo, pois, assim, não só compramos, mas compartilhamos tecnologias, sementes e maquinários. Queremos fortalecer ainda mais essas ações”, disse.
A iniciativa já despertou o interesse de outros estados. De acordo com a analista de sustentabilidade do Departamento Nacional do Sesc, Priscila Oliveira, o projeto cearense segue alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e deve servir de exemplo às demais regionais. “Esse reconhecimento é fruto de um trabalho que impacta positivamente na economia, na inclusão social e na proteção ambiental. É justamente o que o Selo de Sustentabilidade busca valorizar.”
Como se credenciar
As cooperativas entram no projeto por meio de edital, que é publicado nos sites do Sesc e Senac Ceará. A periodicidade de lançamento de novos editais obedece às ondas de expansão do projeto e às necessidades do Sistema.
Em abril, foi lançado um edital para o ano de 2025 que prevê a destinação de R$ 37 milhões para a iniciativa. A recepção de novas cooperativas, no entanto, passa pelo atendimento de uma série de requisitos e acompanhamento contínuo por parte no Sistema, principalmente quanto à sua condição de cooperativa e também de práticas sustentáveis de produção.