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Poesia em alto e bom som na Semana S

Por index, 30/06/25 - 11:15

 

Olhos atentos e corações pulsando em sintonia marcaram o show de Arnaldo Antunes no encerramento da Semana S do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Com sua voz inconfundível e presença cênica única, o artista apresentou a turnê Novo Mundo, que mistura a inquietude do rock com a delicadeza de suas canções poéticas, resultando em uma sonoridade mais densa, intensa e dançante.

Essa foi a terceira apresentação da turnê, que já passou por São Paulo e Rio de Janeiro. Fortaleza foi escolhida como a primeira cidade fora do eixo Sudeste. “Faz tempo que não toco aqui. Tenho um público maravilhoso, sempre fui muito bem recebido”, comentou Arnaldo antes do show.

O novo álbum, Novo Mundo, reúne parcerias de peso, incluindo duas faixas bilíngues com o músico norte-americano David Byrne, fundador da banda Talking Heads, além de colaborações com nomes da nova geração da música brasileira, como Ana Frango Elétrico e Vandal.

Em uma conversa descontraída pouco antes de sua apresentação na Semana S, Arnaldo Antunes compartilhou detalhes sobre o novo disco, as colaborações artísticas e sua visão sobre o papel do Sesc na cultura brasileira.

 

“O Sesc é um grande incentivador da cultura, e poder tocar gratuitamente é o melhor cenário possível. O público mais caloroso é aquele que sempre quis pagar por um ingresso e não podia, e que agora, com o show gratuito, aproveita com ainda mais energia”

Arnaldo Antunes

 

Com a turnê Novo Mundo ainda no início, Fortaleza se torna a terceira cidade no roteiro. O que significa para você tocar aqui, especialmente no contexto da Semana S?

Arnaldo Antunes. Depois dos shows em São Paulo e no Rio de Janeiro, chegamos agora a Fortaleza, que é a terceira cidade a receber a turnê. A expectativa está maravilhosa. Estar aqui na Semana S, que é esse verdadeiro oásis cultural dentro do Brasil, me deixa muito contente. O Sesc é um grande incentivador da cultura, e poder tocar gratuitamente é o melhor cenário possível. O público mais caloroso é aquele que sempre quis pagar por um ingresso e não podia, e que agora, com o show gratuito, aproveita com ainda mais energia.

 

Sobre seu novo trabalho, em duas canções do Novo Mundo você divide vocais com David Byrne, do Talking Heads. Como surgiu essa parceria internacional e o que ela representa para você?

AA. Sou fã e admirador do trabalho do David Byrne desde o início do Talking Heads e ao longo de várias fases da carreira dele. É um artista que sempre se renovou, e sinto muita afinidade com o que ele faz. Já nos conhecíamos, tínhamos nos encontrado algumas vezes, mas sempre muito rapidamente, nunca havíamos trabalhado juntos. Ele tem uma grande paixão pela música brasileira, e isso me motivou a propor uma colaboração. Escrevi para ele, e ele foi muito receptivo. Na verdade, enviei duas ideias para que ele escolhesse uma para desenvolvermos juntos, mas ele acabou gostando das duas. Começamos a compor à distância, trocando e-mails e mensagens durante um tempo. Ele gravou em inglês e eu, em português. O resultado foram duas canções bilíngues que entraram no disco.

 

O novo disco também conta com a participação especial do seu filho Tomé. Como é para você dividir esse espaço criativo com ele?

AA. O Tomé está tocando muito bem guitarra, e eu o convidei para participar da música Para Brincar. Gravamos a base e, depois, ele fez uma sobreposição com a guitarra dele. Achei que ficou um encanto, muito apropriado para a música. Fiquei muito feliz de ver meu filho participando do meu trabalho. Foi muito especial.

 

Você também incluiu a nova geração da música brasileira no seu novo trabalho. O que te atrai nesse diálogo com artistas mais jovens?

AA. Convidei o Vandal e a Ana Frango Elétrico, artistas que eu já admirava, mas com quem ainda não tinha trabalhado. A Ana tem um charme especial na voz, sou fã. A música que gravamos tem uma estrutura em que o final de um verso se sobrepõe ao início do outro, e o dueto com ela funcionou muito bem. O Vandal é um nome forte do rap da Bahia que me chamou atenção. Ele tem um jeito de cantar meio parecido com o meu, especialmente quando uso aquela voz mais berrada, cuspindo as palavras. Ele participou da faixa Novo Mundo, que é muito contundente. O rap que ele fez se encaixou perfeitamente, dando um upgrade na música.

 

E como é, para você, que já tem tantos anos de estrada e muitos sucessos, manter viva essa vontade de experimentar novos sons, novas formas de fazer música e produzir um disco tão diferente?

AA. Esse título Novo Mundo se refere, claro, ao que a canção diz, mas também a uma nova sonoridade — um pouco diferente de tudo que eu já fiz com banda. Eu vinha de uma turnê de voz e piano e estava com desejo de voltar a um som mais dançante, mais pesado. Com essa formação nova, o trabalho ganhou frescor. Fiquei muito entusiasmado.

 

Você tem falado sobre a importância do acesso à arte e da democratização cultural. Como esse show gratuito em Fortaleza se insere nesse contexto do álbum?

AA. Aquele trecho da música que diz: “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte” representa bem essa ideia. O Sesc propicia essa vivência de uma sociedade mais integrada com os valores que prezamos: valorização da cultura, incentivo, debates, shows, enfim, tudo isso junto. Acredito que o Sesc desempenha um papel fundamental, quase como um segundo Ministério da Cultura no Brasil. Acho isso importantíssimo e fico feliz em fazer parte disso.